Mitos da psicanálise
- Silvio Ambrosini

- 22 de jul.
- 2 min de leitura
Atualizado: 6 de out.
Longos silêncios sem que nada aconteça.
Essa ideia virou um mito, supõe-se que o analista é completamente neutro, misterioso e que diga apenas algumas frases perdidas.
Meu comentário: O silêncio é apenas um recurso técnico e não uma regra. Em algumas situações clínicas e dependendo do paciente, o analista fala mais ou menos.
O paciente deita no divã e fala da mãe.

Essa é uma caricatura bastante conhecida. Ela remete à ideia clássica da psicanálise freudiana onde o paciente fala e o analista escuta, fora do seu campo de visão. A caricatura é a associação com a mãe, como se tudo fosse culpa dela.
Meu comentário: É uma ideia reducionista, nem sempre se utiliza o divã. E a relação com a mãe, embora muitas vezes fundamental, não é necessariamente o eixo de uma análise.
O analista nunca dá respostas.
Diz o mito que o analista nunca responde nada, nunca opina, nem diz “o que fazer”.
Meu comentário: É uma verdade parcial. De fato a psicanálise não é aconselhamento. Mas essa construção de sentido pode envolver interpretações, pontuações e indicações que fazem diferença.
A análise dura para sempre.

A ideia de que quem começa uma análise nunca mais sai dela é comum. Vira uma relação interminável.
Meu comentário: Depende do caso, do paciente e da ética envolvida no trabalho. Há análises longas e curtas, conforme a necessidade. Se existe uma verdade é que no tempo da psicanálise, não existe pressa.
A análise é coisa de gente rica, neuróticos e intelectuais.
Esse mito coloca a análise como um privilégio burguês num lugar intelectualizado, distante da realidade, num mundo fechado numa caixinha.
Meu comentário: A história mostra que de fato houve um viés de classe em algum momento do passado, mas hoje a psicanálise permite muitas formas de acesso e lida com todos os sofrimentos psíquicos em pessoas de qualquer classe social.
A análise é normativa, sexista ou racista

O início da psicanálise aconteceu num contexto social da Europa do final do século XIX, onde o normativo colonialista e heterosexual era a base cultural de onde o pensamento derivava.
Meu comentário: Há muito esse estereótipo se desfez e hoje a psicanálise é do indivíduo, seja ele orientado a qualquer manifestação de gênero ou sexualidade possível; assim como de qualquer origem, cor de pele ou condição sócio-cultural.
Tudo é sexo
Outro clichê freudiano. O mito diz que todo problema humano, para a psicanálise, gira em torno do sexo reprimido.
Meu comentário: Freud nunca disse que tudo era sexo, mas sim que a sexualidade infantil tem um papel importante na constituição do sujeito. Confundir isso com promiscuidade, adultério ou sexualidade exacerbada é um erro grotesco.
Pra que vou ficar falando do meu passado se meus problemas estão no presente?
Meu comentário: Muito de como você vive o presente se baseia nas soluções que você criou para si mesmo no passado, com os recursos que você tinha naquela época. Quando você revisita sua história, pode repetir sintomas e assim cria condições para que uma elaboração aconteça e novas soluções possam ser trabalhadas.
Texto: Silvio Ambrosini

Comentários